domingo, 28 de julho de 2024

DOMINGO 28/07/2024: ELEIÇÃO NA VENEZUELA PODE TIRAR MADURO DO PODER APÓS MAIS DE 10 ANOS. CONFIRA.

Maduro está atrás nas pesquisas de intenção de voto e pode não ser reeleito na eleição que acontece neste domingo (28) na Venezuela.

O governo autoproclamado socialista da Venezuela enfrenta no domingo (28/07) seu maior desafio eleitoral em décadas.

Pesquisas de intenção de voto indicam que Nicolás Maduro, de 61 anos, em seu 11º ano no poder e concorrendo à terceira reeleição, tem chances reais de ser derrotado.

Seu principal adversário é o ex-diplomata Edmundo González Urrutia, que lidera a corrida presidencial com mais de 50% das intenções de voto, enquanto Maduro conta com cerca de 20%. Além deles, outros oito candidatos estão na disputa.

NÃO HÁ SEGUNDO TURNO.

Eleições anteriores foram denunciadas como fraudulentas por organizações internacionais como a Organização dos Estados Americanos (OEA), além dos Estados Unidos e da União Europeia. Partidos de oposição foram proibidos de participar, sendo rotulados pelo governo de Maduro como marionetes "fascistas" alinhados a potências estrangeiras.

Desta vez, Maduro permitiu a participação da coalizão de partidos opositores, a Plataforma Unitária, em um acordo que resultou em um breve alívio nas sanções econômicas dos EUA.

No entanto, essas sanções foram reimpostas em meio ao bloqueio da candidatura de María Corina Machado e outras medidas contra opositores.

Ex-deputada, Machado, que se autointitula "liberal", venceu com mais de 90% nas primárias da oposição venezuelana em outubro do ano passado, mas foi impedida de concorrer pelo governo de Maduro, em decisão posteriormente confirmada pela Suprema Corte da Venezuela.

Mais recentemente, Maduro cancelou o convite à missão da União Europeia para monitorar o processo eleitoral, enquanto a ONU confirmou o envio de observadores, que não têm previsão de fazer declarações públicas.

Especialistas consultados pela BBC News Brasil analisam os pontos cruciais da eleição da Venezuela em 2024.

"As condições da eleição estão extremamente desequilibradas, com o governo usando todos os recursos estatais para favorecer Nicolás Maduro. Portanto, a eleição não é justa. No entanto, a oposição ainda tem chances. De fato, as pesquisas mostram Edmundo González, substituto de María Corina, com uma vantagem de pelo menos 20 pontos na intenção de voto", diz Phil Gunson, analista sênior da consultoria Crisis Group sediado em Caracas.

Muitas questões ainda estão em aberto e serão respondidas nos próximos dias: Maduro conseguirá vencer sem manipular os resultados? E, se perder, aceitará a derrota? Nesse caso, como seria a transferência de poder? Qual seria o papel dos militares, que já declararam apoio e lealdade a Maduro, nesse contexto? E qual seria o futuro do chavismo, que governa a Venezuela há 25 anos?

Em meio a tantas perguntas, os especialistas acrescentam que, devido às circunstâncias atuais, se Maduro optar por fraudar as eleições, isso pode representar "um grande risco pessoal" para ele.

A seguir, a BBC News Brasil explica em seis pontos-chave da eleição na Venezuela que pode selar o futuro do país.

1. O candidato da oposição

Edmundo González Urrutia e María Corina Machado; ele veste camisa branca e segura microfone; ela veste camiseta preta

CRÉDITO,EPA

Legenda da foto,Edmundo González Urrutia (à esquerda) foi escolhido candidato de consenso pela coalizão de oposição após cassação da candidatura de María Corina Machado (à direita)

Edmundo González Urrutia, um diplomata aposentado de 74 anos de perfil discreto, é o principal rival de Maduro e lidera nas pesquisas de intenção de voto.

González, também escritor e acadêmico, foi escolhido como candidato de consenso pela coalizão de oposição Plataforma Unitária após o governo Maduro proibir María Corina Machado de ocupar cargos públicos por 15 anos, acusando-a de fraude, o que ela nega.

A decisão, confirmada pela Suprema Corte controlada pelo governo, impediu Machado de concorrer à presidência.

Sua substituta, a historiadora Corina Yoris, também não pôde concorrer. A oposição alega que não conseguiu fazer o registro de sua candidatura no sistema online da autoridade eleitoral. "Eles (governo) não nos permitiram", afirmou o chefe da coalizão, Omar Barboza.

María Corina Machado, que se define como "liberal", emergiu como a figura de destaque da oposição em 2023, ao mobilizar milhões de venezuelanos nas primárias de outubro com seus ataques à corrupção e má administração.

No entanto, a Suprema Corte da Venezuela declarou as primárias ilegais e iniciou investigações criminais contra alguns organizadores.

Vários apoiadores de Machado foram alvo de mandados de prisão, e membros de sua equipe foram detidos.

Apesar disso, Machado continuou sua campanha, transformando-a num símbolo da perda de seus direitos.

Sem as duas mulheres na disputa, a Plataforma Unitária se uniu em torno do nome de González, que conta com o apoio de Machado.

Os dois se comprometem a revitalizar a economia para trazer de volta os milhões de venezuelanos que emigraram desde 2013.

Atualmente, os venezuelanos representam o segundo maior grupo de imigrantes indocumentados que cruzaram a fronteira dos Estados Unidos, atrás apenas dos mexicanos.

"As eleições na Venezuela não são justas, nem limpas, nem equitativas”, disse González em entrevista recente à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC.

"Estamos olhando para o futuro. Não estamos olhando para trás. Queremos uma missão que siga para frente e é por isso que estamos empenhados para que todo o processo eleitoral seja equitativo, justo e transparente.”

"Vamos ganhar do chavismo com uma força majoritária que será expressa nas urnas e o respaldo de milhões de venezuelanos que estão comprometidos com a mudança da Venezuela", acrescentou.

2. Por que Maduro está atrás nas pesquisas?

Pessoas em fila; mulher carrega mochila com as cores da venezuela

CRÉDITO,REUTERS

Legenda da foto,Com economia em colapso, acesso a programas sociais foi drasticamente reduzido, afetando popularidade de Maduro, de acordo com analistas

Apesar de manter um considerável apoio de fervorosos seguidores, conhecidos como "chavistas", que incluem milhões de funcionários públicos, e de cultivar uma imagem de "homem do povo", a popularidade de Maduro caiu devido à crise econômica, corrupção e má administração, segundo especialistas.

Sondagens realizadas por três institutos (Datincorp, Meganálisis, ORC Consultores) mostram González com mais de 50% das intenções de voto, enquanto Maduro tem menos de 20%.

Maduro disse, durante um comício recente, que haveria "banho de sangue, em uma guerra civil fratricida" se ele não vencer as eleições.

Gráfico sobre monitoramento de pesquisas eleitorais na Venezuela

Com a economia em colapso, o acesso aos programas sociais que anteriormente mobilizavam eleitores foi drasticamente reduzido, apontam especialistas.

"Os venezuelanos vivem na pobreza. Quase 8 milhões deixaram o país por falta de perspectivas e empregos dignos. Nesta campanha eleitoral, muitos esperam um resultado que permita o retorno de milhões ao país", diz à BBC News Brasil Gunson, da Crisis Group.

"Maduro, desde que assumiu o poder, prometeu prosperidade e recuperação econômica, mas nunca cumpriu suas promessas. Isso está gerando o grande impulso por mudança", acrescenta ele.

Para o especialista, "não se trata de uma questão ideológica".

"Não é porque as pessoas rejeitam o socialismo ou são atraídas pelo conservadorismo de María Corina. O que elas desejam é ver um tipo de mudança que permita o retorno ao crescimento, a restauração da governança institucional e a recuperação da infraestrutura do país", diz.

Maduro responsabiliza os Estados Unidos e a oposição pelas dificuldades econômicas da Venezuela, citando as sanções impostas pelos americanos.

Gunson diz que as sanções "certamente tiveram um papel", mas observa que a crise econômica começou "muito antes das sanções" e que a maior parte da responsabilidade recai sobre o governo.

Vice e herdeiro político de Hugo Chávez, Maduro, um ex-motorista de ônibus, foi eleito pela primeira vez presidente da Venezuela em abril de 2013 por uma margem estreita, após governar interinamente por alguns meses.

Chávez havia sido eleito em outubro de 2012 para um quarto mandato, mas sua posse acabou adiada devido ao tratamento de seu câncer. Ele morreu em Caracas, aos 58 anos em março de 2013.

Em 2018, Maduro foi reeleito em uma eleição contestada tanto internamente quanto internacionalmente.

Sua vitória não foi reconhecida pelos Estados Unidos e vários outros países, que passaram a reconhecer Juan Guaidó, então presidente da Assembleia Nacional, como líder legítimo do país.

No entanto, Guaidó nunca conseguiu assumir o controle efetivo do governo, e Maduro permaneceu no poder.

Em resposta, os Estados Unidos impuseram sanções econômicas contra a Venezuela.

3. Quem vai votar?

Três pessoas atrás de mesa com produtos básicos; elas vestem camisetas brancas de apoio a Maduro

CRÉDITO,EPA

Legenda da foto,Na Venezuela, voto não é obrigatório e é realizado por meio de urnas eletrônicas

Mais de 21 milhões de venezuelanos estão registrados para votar, mas o êxodo de 7,7 milhões deve reduzir o eleitorado para cerca de 17 milhões.

Além disso, apenas cerca de 69 mil venezuelanos no exterior podem votar devido a inúmeras exigências burocráticas impostas pelo governo.

Nos Estados Unidos, os consulados, onde normalmente os eleitores votam, foram fechados desde o rompimento das relações diplomáticas entre Caracas e Washington.

Na Venezuela, o voto não é obrigatório e é realizado por meio de urnas eletrônicas.

4. Qual é o contexto da eleição?

Maduro discursa em palanque; em primeiro plano, apoiador segura imagem de ex-presidente Hugo Chávez, morto em 2013

CRÉDITO,EPA

Legenda da foto,Escassez generalizada de alimentos, medicamentos e habitação adequada também levou milhões de venezuelanos a fugir do país

A esperança de uma eleição mais justa surgiu quando Maduro e a Plataforma Unitária, principal oposição da Venezuela, assinaram o Acordo de Barbados, mediado pela Noruega, em outubro de 2023.

Nele, o governo venezuelano se comprometeu a garantir as eleições deste ano e aceitar o resultado das urnas.

Como consequência desse acordo, os Estados Unidos relaxaram sanções econômicas contra os setores de gás, mineração e petróleo controlados pelo governo.

Contudo, o cenário mudou quando as primárias da oposição foram suspensas e declaradas ilegais pela Suprema Corte. Também foram emitidos mandados de prisão contra defensores de direitos humanos, jornalistas e membros da oposição.

Um painel de especialistas da ONU relatou um aumento na repressão aos críticos do regime, enquanto a campanha de Machado e González acabou limitada pelo controle da máquina pública nas mãos de Maduro.

Isso levou o governo Biden a reimpor sanções no início deste ano.

No fim de junho, Maduro e outros candidatos às eleições presidenciais assinaram um acordo para respeitar os resultados. Mas a Plataforma Unitária se absteve, argumentando que o governo já havia violado o Acordo de Barbados.

Esse novo acordo de nove pontos foi apresentado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), a mais alta autoridade eleitoral da Venezuela, que os críticos dizem ser uma extensão do partido de Maduro no poder.

Laura Dib, diretora do Programa da Venezuela na WOLA (Escritório de Washington para a América Latina), uma ONG com sede em Washington DC que promove os direitos humanos nas Américas, diz: "Estamos documentando as irregularidades no processo eleitoral e trabalhando com nossos parceiros na Venezuela. Está claro que as eleições não serão justas, nem livres, pois o governo já mostrou sua natureza autoritária", diz.

Esse receio aumentou na semana passada quando María Corina Machado, em uma postagem no X (antigo Twitter), anunciou que seu chefe de segurança, Milciades Avila, havia sido detido, na mais recente de uma série de prisões de ativistas e membros da oposição.

Apesar disso, ela acrescentou: "O aspecto mais valioso é que a população venezuelana permanece comprometida com a via eleitoral e com a busca de uma solução pacífica e democrática para a crise política".

Maduro, por sua vez, afirmou que o sistema eleitoral da Venezuela é "o mais transparente do mundo" e acusou a oposição de levantar suspeitas de fraude para criar caos.

"(A oposição) quer semear uma hecatombe, uma tragédia, para gritar: 'suspensão das eleições'. E daí os gringos virão, virá o maldito Milei (presidente da Argentina), virá o Noboa (presidente do Equador), virá a direita dizendo: 'suspendam as eleições'", disse.

"Mesmo se houver chuva, trovões e relâmpagos, no dia 28 de julho haverá eleições na Venezuela, e ninguém vai sabotá-las", acrescentou.

Um estudo recente, realizado pelo Centro de Estudos Políticos e de Governo da Universidade Católicas Andrés Bello, em Caracas, na Venezuela, mostrou que 85% da população venezuelana deseja uma mudança no governo.

Apesar de possuir as maiores reservas de petróleo do mundo, a má gestão e as sanções dos EUA mergulharam o país em uma das piores emergências humanitárias testemunhadas fora de um contexto de guerra, deixando cerca de 19 milhões de pessoas necessitando de ajuda.

A escassez generalizada de alimentos, medicamentos e habitação adequada também levou milhões a fugir do país.

A Venezuela tem experimentado um dos declínios mais rápidos na democracia em todo o mundo nos últimos anos, posicionando-se entre os 25 piores nesse quesito segundo o ranking Global State of Democracy realizado pelo Instituto Internacional para a Democracia e Assistência Eleitoral (International IDEA), uma organização intergovernamental que apoia a democracia em todo o mundo.

5. O que pode acontecer?

Presidente da Venezuela Nicolás Maduro discursa segurando microfone e apontando dedo para cima

CRÉDITO,EPA

Legenda da foto,'Maduro pode vencer as eleições sem fraude': esta é uma das perguntas que especialistas estão se fazendo

Especialistas consultados pela BBC News Brasil afirmam que é difícil prever o que pode acontecer. Entre as questões levantadas, estão: Maduro pode vencer as eleições sem fraude? Haverá protestos contra os resultados? Ele aceitaria uma possível derrota? Em caso afirmativo, como será feita a transição de poder? Os militares vão intervir? Qual será o papel de outros países?

Em meio a tanta indefinição, há uma certeza: a participação popular será crucial nessas eleições, segundo eles.

"É muito mais difícil fraudar uma eleição quando a diferença de votos é grande. Além disso, a presença de observadores nacionais e internacionais, bem como a atenção da comunidade internacional, é crucial", diz Dib, da WOLA.

Gunson acrescenta: "O governo ainda acredita que pode vencer, conseguindo 6 milhões de votos a seu favor e impedindo que a oposição alcance um número semelhante de votos".

No entanto, diferentemente das eleições passadas, caso Maduro fraude as eleições ou não aceite a derrota, isso aconteceria sob grande risco pessoal para ele, acreditam os especialistas.

"Acredito ser importante considerar quais são os custos de permanência para Maduro no poder", diz Dib.

"Neste cenário, em que Maduro precisa de legitimidade e o país enfrenta crise humanitária e econômica, é importante considerar se o chavismo também precisa se adaptar para manter algum poder", acrescenta.

Segundo Gunson, do Crisis Group, o pior cenário para Maduro seria "uma divisão interna no chavismo", onde uma parte da coalizão aceita negociar e reconhecer a vitória da oposição, enquanto a outra prefere resistir.

"No caso de uma vitória clara e esmagadora da oposição ratificada pelos monitores eleitorais, com as multidões indo às ruas, seria altamente arriscado para Maduro tentar permanecer no poder", diz à BBC News Brasil Mark Feierstein, consultor sênior do Programa América Latina do think tank United States Institute of Peace, sediado em Washington DC.

"Será que as forças armadas reprimiriam manifestantes de um presidente rejeitado? E os aliados de Maduro aceitariam sanções e a ira popular por um líder repudiado?", questiona.

Os especialistas acreditam que, mesmo em uma eventual vitória da oposição e com a aceitação da derrota por Maduro, a transição de poder será difícil.

"O mais provável é que uma transição seja uma negociação longa e complicada, na qual Maduro pode realmente desviar ou sequestrar o processo", diz Ryan Berg, diretor do Programa de Américas do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, think tank com sede em Washington, D. C.

"Mesmo em uma situação em que o regime admita a derrota e entre em negociações, todos os detalhes dessa negociação são importantes"

"O cenário menos provável é uma verdadeira transição de poder com Maria Corina Machado ou Edmundo González Urrutia assumindo cargos importantes. Isso exigiria uma fratura significativa no regime, intervenção militar ou um movimento de protesto difícil de reprimir", acrescenta.

Gunson, da Crisis Group, lembra ainda que Maduro ainda governará a Venezuela até janeiro de 2025.

"Maduro ainda será presidente e controlará todas as instituições principais, incluindo o parlamento, o Supremo Tribunal e as forças armadas. Mesmo enfraquecido internamente, ele poderá dificultar, se não impedir, a posse de Edmundo González e o governo do país".

"Uma transição para uma política mais normal exigirá negociações extensas entre os dois lados."

6. Que papéis outros países podem desempenhar?

Presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva em primeiro plano; bandeira do Brasil é vista em segundo plano

CRÉDITO,EPA

Legenda da foto,Aliado de Maduro, Lula criticou fala de líder venezuelano

Especialistas destacaram a importância do papel de países da região, como Brasil e Colômbia, além dos Estados Unidos, nas eleições e na eventual transição de poder, caso a oposição vença.

"Não há árbitro neutro, e o Supremo Tribunal e a autoridade eleitoral estão nas mãos do governo. Isso destaca a importância da comunidade internacional, especialmente os países da região que desejam uma Venezuela democrática", diz Gunson, da Crisis Group.

"O Brasil, com a intervenção pessoal do presidente Lula, e a Colômbia têm desempenhado papéis cruciais. Sem essas intervenções, a oposição, como Edmundo González, talvez não estivesse participando, e a situação poderia ser semelhante à de 2018", acrescenta.

Nesta semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva expressou sua preocupação com a retórica do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, e solicitou respeito pelo processo democrático e pelo resultado das eleições presidenciais no país.

"Fiquei assustado com a declaração do Maduro dizendo que, se ele perder as eleições, vai ter um banho de sangue. Quem perde as eleições toma um banho de voto. O Maduro tem que aprender, quando você ganha, você fica; quando você perde, você vai embora", disse Lula, em entrevista a agências de notícias internacionais no Palácio da Alvorada.

Gunson espera que, se Maduro "tentar rejeitar a vitória da oposição ou assumir o poder ditatorial", "Colômbia e Brasil se oponham e exerçam pressão significativa sobre Maduro para reconhecer o resultado”, observando que não prevê “um rompimento das relações diplomáticas" mesmo que esse cenário venha a se concretizar.

Feierstein acredita que os EUA também terão um papel a desempenhar "no avanço de uma transição democrática", caso Maduro aceite a derrota.

Segundo ele, o governo Biden poderia suspender a recompensa de US$ 15 milhões (R$ 84 milhões) pela captura de Maduro, que ainda está ativa, ou, mais importante, retirar a acusação de tráfico de drogas contra o líder venezuelano e outros altos funcionários do governo.

Para Gunson, "uma recuperação completa da Venezuela só será possível se o resultado da eleição for reconhecido internacionalmente e se houver uma restauração da normalidade, começando com a suspensão das sanções".

"Além disso, o governo precisará mudar significativamente sua abordagem em relação às políticas econômicas e sociais e restaurar o Estado de Direito", completa.

Maduro vota em Caracas e diz que vai reconhecer “árbitro eleitoral”

Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro votou logo na abertura das urnas, às 6h20 da manhã, na venezuela e ás 7h20 horário de Brasilia, na capital da Venezuela, Caracas.


Ainda na entrevista concedida na manhã deste domingo, Maduro respondeu que, caso reeleito para os próximos seis anos, terá como objetivo “unir mais” o país.

ATUALIZANDO

Nicolás Maduro está no comando da Venezuela desde 2013 - Reprodução

Com 51,2% dos votos, Maduro vence eleições e consolida força do chavismo na Venezuela

Presidente da Venezuela terá mais um mandato para reunificar base, ampliar programas sociais e derrubar sanções dos EUA.

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, foi reeleito neste domingo (28). O chavista que representa o Partido Socialista Unido de Venezuela (PSUV) recebeu 51,20% dos votos contra 44,2% do ex-embaixador Edmundo González Urrutia com 80% das urnas apuradas. O mandatário terá agora mais seis anos no governo e se tornará o presidente mais longevo da história da Venezuela.

Com a vitória, Maduro dará continuidade a um projeto iniciado pelo ex-presidente Hugo Chávez em 1998. De lá para cá, o chavismo se consolidou enquanto linha político-ideológica da Venezuela e, pela 7ª eleição presidencial seguida, conquista os votos para mais um mandato. A diferença, dessa vez, ficou por conta da disputa pelos eleitores.

A eleição de Maduro foi uma das mais difíceis para o chavismo nos últimos tempos. Depois de ter passado por seis anos pela maior crise econômica do país, a Venezuela chegou ao pleito em uma recuperação que foi crucial para a vitória de Maduro. Os principais argumentos do governo foram a queda da inflação e a estabilização da moeda local, o bolívar, mesmo sofrendo um bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos, com mais de 900 sanções impostas contra setores estratégicos.

Com isso, o presidente conseguiu dar a volta por cima em um dos períodos mais tensos dos últimos anos do governo e garantiu a reeleição. Agora, Maduro terá pela frente dois desafios: negociar o fim do bloqueio com os Estados Unidos e reconquistar a confiança de parte da população. 

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O presidente enfrentou em seu último mandato as sanções mais duras que os EUA poderiam impor sobre o país. Os estadunidenses bloquearam o principal setor produtivo venezuelano, a indústria petroleira. Com isso, a entrada de dólares caiu e a Venezuela entrou em uma espiral que desgastou a imagem de Maduro com a população e fez das eleições de 2024 uma das mais apertadas da história do país. 

Acostumado a ganhar

Essa, no entanto, não foi a eleição mais apertada das que participou Maduro. A primeira que disputou foi em 2013. A Venezuela passava por um momento importante da política. Hugo Chávez morreu em 2013, logo após sua 4ª eleição. O chavismo sofreu um baque e a sociedade venezuelana passou por um momento de incerteza sobre como seria o futuro. Naquele mesmo ano, no entanto, Nicolás Maduro recebeu um voto de confiança da população e bateu Henrique Caprile com uma margem estreita: 50,61% contra 49,12% do opositor.

Entre os chavistas, o sentimento para 2024 era de que “estamos acostumados a ganhar, mas dessa vez não tem tanta confiança”. Isso porque, depois de boicotar o pleito de 2018, a oposição teve uma participação massiva, a 3ª maior desde 1992. Ao todo, 9 candidatos opositores duelavam contra o representante do PSUV. 

O cenário foi incerto até o fechamento das urnas. Os dois lados encerraram os 21 dias de campanha com declarações confiantes. Para os eleitores, no entanto, havia muita incerteza. Do lado opositor de Caracas, alguns já adotavam o discurso de que “precisamos ganhar e vamos ganhar. Mas o outro lado tem mais organização”. Já para os chavistas, a desconfiança pairou até a última manifestação, realizada no dia 25. Com milhares de apoiadores, os apoiadores de Maduro organizaram uma marcha que ocupou 12 quadras da avenida Bolivar, uma das principais da capital. Faltando 3 dias para a votação, esse foi o gás final que a esquerda venezuelana precisava.

Governo alinhado e oposição desorganizada

A corrida eleitoral começou em outubro de 2023. Naquele mês, governo e oposição assinaram em Barbados um acordo que definiu as regras iniciais para a disputa. A partir daquele momento, os Estados Unidos começaram a emitir algumas licenças para o mercado venezuelano, sendo a principal delas a licença 44, que permitia a venda do petróleo da Venezuela para outros países. 

Com isso, uma coisa era certa: as eleições aconteceriam no segundo semestre. O principal nome da oposição era María Corina Machado, ex-deputada ultraliberal foi inabilitada pela Justiça venezuelana em junho de 2023 por 15 anos por "inconsistência e ocultação" de ativos na declaração de bens que ela deveria ter apresentado à Controladoria-Geral da República (CGR) enquanto foi deputada na Assembleia Nacional (2011-2014).   

Por não poder concorrer, ela iniciou uma disputa interna que desorganizou a oposição. Primeiro, tentou emplacar a professora de filosofia Corina Yoris, mas seu grupo político, Vente Venezuela, não está registrado como partido no país e não pode inscrever candidatos. Sem apoios de outros partidos, ela tentou cavar a desistência do governador de Zulia, Manuel Rosales. Depois de reuniões frustradas, eles chegaram a um acordo para apoiar Edmundo González Urrutia.

A falta de propostas também foi a marca de uma oposição que demorou a definir um candidato. Em entrevistas, tanto María Corina Machado quanto Edmundo González Urrutia falaram mais sobre a necessidade de mudar o governo do país do que apresentaram propostas. A única linha apresentada foi o pacote de privatizações. Mesmo sem poder ser candidata, a ex-deputada montou um plano de governo que apresentava a estatal petroleira PDVSA como o principal alvo para as privatizações. 

Enquanto isso, Maduro anunciou desde janeiro o seu plano de governo: as 7 Transformações. O documento propõe o desenvolvimento em sete áreas divididas em economia, social, política, meio ambiente e relações internacionais, além de dois tópicos mais conceituais: expandir a doutrina bolivariana e aperfeiçoar a convivência cidadã. 

Nesse período, o presidente também conseguiu reunir antigos chavistas que haviam virado desafetos e grupos mais críticos às suas políticas que já haviam participado do governo de Chávez. A concentração de forças ao seu redor foi fundamental para difundir o apoio. 

O governo também lançou mão de ferramentas para ampliar a mobilização popular na campanha. A primeira dela aconteceu com 3 meses de antecedência e foi a consulta popular das comunas. Em uma experiência de autogestão territorial, esses espaços foram criados por Hugo Chávez, que visava o Estado Comunal como o fim do processo revolucionário bolivariano. Nessa consulta foram escolhidos 4.500 projetos que seriam executados em diferentes lugares do país.

As comunas são os espaços onde se desenvolvem algumas das principais ideias do ex-presidente Hugo Chávez para um projeto de país com uma democracia participativa e a atuação direta da população na resolução de questões da vida em sociedade. Essa votação ajudou a mobilizar os conselhos comunais em assembleias que já discutiam a necessidade de dar continuidade ao processo chamado de revolução bolivariana. 

O segundo instrumento usado foi o 1x10. O mecanismo de campanha criado pelo PSUV buscou atrair o “voto consciente” da militância e dos eleitores de Nicolás Maduro. A ideia é que cada filiado ao partido consiga mobilizar 10 pessoas para ir às urnas e que converta ao menos um voto de alguém que nunca tenha votado no chavismo ou participado dos últimos pleitos que foram realizados desde a eleição de Chávez.

A campanha foi uma espécie de "vira voto", movimento realizado no Brasil em 2018 para converter o voto de pessoas que não sabiam em quem votar ou que queriam votar no então candidato Jair Bolsonaro, para o candidato do PT, o atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Em seu último dia de campanha, Maduro disse que o programa foi um sucesso e garantiria a vitória nas eleições. 

Maduro 1 e 2

O presidente chegou para as eleições depois de 12 anos turbulentos no país. Eleito em 2013, ele enfrentou manifestações violentas da oposição, boicotes de empresários e um bloqueio externo que reduziu as finanças do governo. 

Nos dois primeiros anos, 2014 e 2015, começa o que o governo chama de “guerra econômica interna”. Em um contexto de inflação crescente, os empresários passam a ampliar os preços dos produtos em uma cadeia especulativa que permitiu o aumento dos lucros acima do ritmo inflacionário. Isso distorceu a taxa de inflação e criou um ciclo de aumento de preços que chegou a uma taxa de 180% ao ano em 2015. 

Como resposta, o governo de Maduro passou a controlar os preços e estabeleceu um sistema de controle para regular a cadeia de abastecimento. Um exemplo disso foi a Lei do Preço Justo, que estabelecia um teto para o preço dos produtos primários do país. Ele também criou um instrumento que se popularizou e ganhou força nos anos mais duros da crise, os Comitês Locais de Abastecimento e Consumo (CLAP) –programa de distribuição de cestas básicas que são entregues pelos próprios bairros organizados e comunas do país. 

Mesmo conseguindo amenizar o impacto da crise econômica para a população, o Estado passa a ter que lidar com problemas cada vez maiores. A inflação continuava crescendo e os empresários passaram a segurar produtos nos estoques para não baixar os preços, já que agora havia um teto para o valor dos produtos. A escassez desses alimentos nos mercados começou a ser sentida e a imagem de uma Venezuela em crise começou a se refletir em longas filas nos mercados. 

A instabilidade econômica afetou o câmbio e a moeda local, o bolívar, começou a perder valor. Para completar, de 2014 a 2018, o Banco Central do país deixou de publicar a cotação do dólar. Com isso, comerciantes, empresários de diferentes setores e agentes econômicos perderam a referência para estabelecer preços. Quem ocupou esse vazio cambiário foi a moeda paralela.

Diferentes sites e páginas começaram a cotar o dólar em relação ao bolívar para trazer referência, e o valor da moeda estadunidense disparou no país. Somado a isso, o então presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, sanciona a Lei de Defesa dos Direitos Humanos e da Sociedade Civil da Venezuela, que bloqueia ativos de mais de 50 venezuelanos no exterior. 

Com a eleição de Donald Trump nos EUA em 2016, as sanções se intensificam e o país bloqueia completamente o setor petroleiro venezuelano. A partir daquele momento, quem quisesse negociar petróleo venezuelano não teria acesso ao mercado estadunidense.

A pressão interna aumentou cada vez mais e a oposição articula em 2014 e 2017 as chamadas guarimbas –manifestações violentas realizadas na zona nobre de Caracas. Com isso, o governo passa a tentar controlar a situação do país em diferentes frentes: uma econômica e outra de segurança. O contexto de violência escala e os manifestantes chegam a queimar um chavista vivo em meio aos protestos. 

Esse foi o cenário ideal para que a imprensa internacional fortalecesse a campanha contra o governo de Nicolás Maduro. Canais de televisão e agências de notícias internacionais passaram a atacar a construir o que o próprio presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chamou de uma “narrativa” que criminaliza o chefe do Executivo venezuelano.

Mesmo nesse contexto, Maduro consegue ser reeleito em 2018 em uma eleição que a oposição decidiu não disputar. Um ano depois, no entanto, veio a resposta. O ex-deputado Juan Guaidó se autoproclamou presidente em 2019, ganhou apoio dos EUA e do Brasil –então presidido por Jair Bolsonaro (PL)– e tentou derrubar Maduro. Ele, no entanto, viu fracassar a sua liderança e deixou o país em 2023 para viver em Miami.

Sem uma liderança, a oposição se fragmenta, não consegue se articular e recorre à Maria Corina Machado, mesmo inabilitada, para o pleito. O grupo chega às eleições sem um nome de peso para a disputa.

Além disso, Maduro enfrentou a pandemia de covid-19, que colocou o país em uma recessão ainda maior e passou a ter que ampliar os gastos do Estado para comprar e distribuir vacinas, melhorar a estrutura de hospitais e implementar políticas sanitárias. Os esforços deram certo e o país contabilizou 5.856 mortes em uma população de quase 30 milhões de pessoas.

Perspectivas Maduro 3

Com a eleição para um terceiro mandato, Maduro tem duas opções muito bem definidas: ou ele potencializa uma forma de governo mais pragmática ou volta a um ideal chavista que marcou o início de seu primeiro mandato, em 2013. 

Para o cientista político venezuelano e pesquisador do grupo Missão Verdade, Franco Vielma, a expectativa é que o presidente foque no bem-estar social da população depois dos anos duros da crise. Segundo ele, Maduro disse abertamente que ampliará os gastos públicos e a atuação das Grandes Missões –programas do governo setorizados por grupos da população ou áreas econômicas. 

“Maduro prometeu “Mais Mudanças e Mais Transformações” para sua política econômica. Isso está vinculado com uma oferta de campanha que está associada a necessidades reais da população de situações de mudança e de transformações, preservando a estabilidade. O povo quer mudanças, mas que se proteja o Estado social e as políticas públicas. Ou seja, a atenção à população vulnerável. Maduro conjugou todos esses elementos no momento em que anuncia grandes missões sociais”, afirmou ao Brasil de Fato.

A manutenção de um pragmatismo, no entanto, é uma posição colocada por parte do chavismo. Se nos últimos anos Maduro teve que adequar políticas públicas e econômicas de acordo com o contexto em que o país foi submetido, pesquisadores acreditam que essa posição possa não deve se manter. Para o sociólogo Ociel Lopez, ele deve manter um pragmatismo, mas inclinado para seu primeiro governo.

“Ele será um ator pragmático, não um dogmático ideológico. Sabe jogar as fichas da economia, conseguiu estabilizar no governo e isso ninguém pode negar. Poderíamos dizer que, em um 'Maduro 3' voltaria a conquistar direitos sociais. Ele está muito consciente de que o grande problema é melhorar os salários, porque os salários estão perdidos. As conquistas sociais e trabalhistas deixaram de existir em um governo que se diz trabalhador. Obviamente as sanções têm muita culpa, mas havia uma crise prévia. Aconteça o que acontecer, ele vai ter que voltar para esse caminho”, afirmou.

Outra questão que Maduro terá que resolver é a relação com os Estados Unidos. Com as licenças, a economia venezuelana melhorou e empresários estadunidenses ligados ao setor do petróleo começaram a fazer um movimento de pressão pelo afrouxamento do bloqueio. A Chevron, por exemplo, é a empresa estrangeira que tem maior participação no mercado venezuelano, compondo empresas mistas com a própria PDVSA.

O país norte americano terá também eleições neste ano e pode mudar os rumos da relação com a Venezuela a depender do cenário energético internacional dos próximos meses. 

Aumentar a popularidade também será um desafio de Maduro, já que de 6 em 6 anos a revolução coloca à prova sua legitimidade com a população. Mesmo que para as eleições isso tenha funcionado, uma ala do governo entende que é importante que a esquerda venezuelana esteja envolvida no projeto de governo de Maduro. 

Para o cientista político e especialista em economia política Juan Carlos Valdez, a expectativa é que as forças revolucionárias discutam os rumos do processo para o próximo ciclo.

“Esperamos que se abra um processo de discussão novamente no seio das forças que apoiam a revolução. Para primeiro resolver aquelas situações que conduziram para que muitos revolucionários se distanciassem do governo e que até se opunham ao governo. É preciso abrir a discussão. Esse é um desafio para Nicolás: reunificar as forças revolucionárias por meio do debate. Só no debate e na discussão franca vamos conseguir as soluções para os problemas que não resolvemos”, afirmou.

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