Lula concede entrevista a Semayat Oliveira e Mano Brown (Foto: Ricardo Stuckert).
Em uma conversa aprofundada com Mano Brown e Semayat Oliveira no podcast "Mano a Mano", o presidente Luiz Inácio Lula da Silva delineou um panorama complexo e ambicioso de seu terceiro mandato, avaliando o progresso da "reconstrução" do Brasil, o cenário político conturbado e as perspectivas futuras para o país. Em declarações marcantes, Lula afirmou: "O que fizemos no Brasil é uma pequena revolução", um testemunho do esforço de seu governo em face de desafios sem precedentes. O presidente Lula, desde o início da entrevista, abordou a complexidade do cenário político global e nacional. “O mundo tá mais confuso politicamente, o mundo tá mais confuso com o ressurgimento de uma extrema direita virulenta do ponto de vista do discurso, do ponto de vista da sua prática política”, declarou, criticando a "falta de respeito a instituições" e a "tentativa de acabar com o multilateralismo", em uma clara alusão ao comportamento de líderes como o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que, em seu segundo mandato, "passa o tempo inteiro pregando discórdia, inventando confusão, criando confusão".
Lula enfatizou que, ao assumir a presidência pela terceira vez, encontrou um "país semi destruído", comparando a situação à devastação na Faixa de Gaza, dada a desestruturação de ministérios como o do Trabalho, da Igualdade Racial, dos Direitos Humanos e da Cultura. "Tudo tinha sido uma destruição proposital", afirmou. A tarefa do governo, então, foi "reconstrução, união e construção para colocar esse país de pé".
Sobre as críticas de que seu governo pende para o
comunismo ou para o neoliberalismo, Lula foi enfático: "Eu me considero um
cidadão de esquerda, sabe? Mas muito realista". Ele explicou a necessidade
de composições políticas no Congresso Nacional, onde seu partido, o PT, detém
70 deputados dos 513 e nove senadores dos 81. "Eu duvido que algum governo
dito de esquerda tenha feito mais política de inclusão social do que nós
fizemos nesse país", desafiou, citando as políticas de Getúlio Vargas e a
criação da CLT como um marco anterior de inclusão social no Brasil, que só foi
superado, segundo ele, pelos governos do PT.
Economia e políticas sociais: o desafio da percepção
Apesar dos indicadores econômicos positivos, Lula reconheceu
a dificuldade de que a população sinta a melhora no dia a dia. Referindo-se à
queixa da vendedora Débora, citada por Semayat, ele admitiu: "É bem
possível que seja verdade, porque a Débora deve estar comparando o Brasil que
ela está vivendo hoje com o Brasil de 2010". No entanto, Lula defendeu os
avanços: "Nesses dois anos de governo, nós temos recorde de crescimento
econômico... de geração de emprego e de aumento da renda salarial dois anos
consecutivos aumentando o salário mínimo".
O presidente citou programas como o "Pé de Meia", que
oferece apoio financeiro a jovens para mantê-los na escola, as "Escolas de
Tempo Integral" e o programa de alfabetização para adultos, como pilares
de uma "pequena revolução" social. Ele também mencionou o relançamento
do "Minha Casa, Minha Vida" e a criação do programa
"Acredita", que visa financiar micro e pequenos empreendedores.
Lula destacou a importância da comunicação para que a população
compreenda as ações do governo. "As pessoas não sabem das coisas que nós
fizemos", lamentou, enfatizando a necessidade de divulgar os feitos do
governo em meio a um ambiente de "xingamento" e "mentira"
nas redes digitais.
Segurança pública e o uso das redes
digitais
Sobre a segurança pública, Lula defendeu a atuação do
governo federal, que historicamente tem menor incidência na área, uma vez que a
Constituição de 1988 concedeu o comando da segurança pública aos estados. No
entanto, ele revelou que o governo enviou uma Proposta de Emenda Constitucional
(PEC) para "definir o papel do governo federal na questão da segurança
pública". O presidente enfatizou a necessidade de uma atuação mais ativa
da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal no combate ao tráfico de
armas e drogas, e na fiscalização de fronteiras.Lula também abordou a polêmica
do uso de câmeras nas fardas policiais e o decreto que recomenda o uso da arma
de fogo como último recurso. "Por que nós estamos exigindo o uso da
câmera? Porque a câmera ela vai ter de tornar mais comedido o comportamento
policial", disse, visando uma relação mais protetiva entre a polícia e a
população, especialmente a juventude negra nas periferias. Ele lamentou o
aumento do número de feminicídios, mortes por acidentes casuais e violência
contra mulheres devido à proliferação de armas. "A arma não é
solução", reforçou.
A entrevista dedicou um tempo significativo à questão das redes
digitais e da desinformação. Lula, que revelou não usar celular ("Porque é
quem tiver um celular, ele não trabalha mais"), expressou profunda
preocupação com o fenômeno da inteligência artificial e a proliferação de
notícias falsas. "A desfaçatez, o tamanho da desfaçatez da extrema direita
e utilizar isto contra qualquer pessoa", alertou, citando exemplos de
imagens falsas com personalidades públicas. O presidente defendeu a
regulamentação das redes digitais, afirmando que a "liberdade de
expressão" não pode ser um pretexto para a mentira e a difamação.
"Não me peçam para fazer uma campanha mentirosa que não faz parte da minha
vida", declarou.
Relação com Alckmin e o futuro
eleitoral
Lula fez questão de elogiar o trabalho do vice-presidente Geraldo Alckmin: "O Alckmin tem feito um trabalho extraordinário na vice-presidência. Ele é ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Ele tem feito um trabalho extraordinário, sabe, para que a indústria brasileira volte a crescer." O presidente destacou que a indústria brasileira voltou a crescer 3,4% após 14 anos, graças a programas como o "Nova Indústria Brasil". Lula descreveu Alckmin como um parceiro com "uma lealdade extraordinária", considerando sua escolha como um "acerto".Quando questionado por Mano Brown sobre a continuidade e sucessão para as eleições de 2026, Lula deixou claro: "Eu não sou um candidato meu. Eu serei candidato a ganhar as eleições". E desafiou os adversários: "Quem quiser ganhar de mim vai ter que andar mais do que eu na rua. Vai ter que fazer mais discurso do que eu na rua, vai ter que conversar mais com o povo do que eu na rua e vai ter que fazer mais do que eu. E eu duvido que alguém seja capaz disso, pelo menos dos que estão aí. A extrema-direita não vota a governar esse país. Pode ter certeza disso."
Meio ambiente e o dilema do petróleo
Sobre a pauta ambiental e a exploração de petróleo na foz do
Amazonas, Lula destacou a importância da COP 30, que será realizada na
Amazônia, para que o mundo conheça a região. Ele reiterou o compromisso de seu
governo em alcançar "desmatamento zero" até 2030. Em relação à
exploração de petróleo, o presidente defendeu a prospecção na Margem
Equatorial, argumentando que o petróleo está a 545 quilômetros da Foz do
Amazonas,e que o Brasil, com a Petrobrás, possui expertise em águas profundas.
"O mundo não está preparado para viver sem o petróleo", afirmou,
defendendo que o recurso pode financiar a transição energética. "Não
podemos abdicar dessa riqueza", disse, garantindo que "nada será
feito pode causar qualquer dano ao meio ambiente".
Reforma tributária e CLT: justiça
social e novos tempos
No campo econômico e social, Lula abordou a reforma tributária e a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Ele prometeu a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil e descontos para quem ganha até R$ 7,2 mil, além da redução da conta de energia elétrica para milhões de brasileiros. "A gente quer fazer justiça tributária, a gente quer fazer justiça, que que ganha mais pague mais. Quem ganha menos, pague menos e as pessoas que são mais vulneráveis que não paguem imposto de renda", sintetizou.Sobre a CLT, Lula reconheceu as novas dinâmicas do mercado de trabalho, com jovens buscando maior flexibilidade e autonomia. Ele mencionou a necessidade de o Ministério do Trabalho, liderado por Luiz Marinho, discutir com as novas gerações "que tipo de jornada eles almejam que seja criado para poder dar vazão às aspirações dele". No entanto, defendeu a importância da CLT para garantir direitos, e reiterou que o governo não é contra o empreendedorismo, mas busca "criar possibilidade de ele ter certo recurso para fazer as coisas que ele quer fazer".
Legado, fé e o futuro da juventude
Em um momento de profunda reflexão pessoal, Lula compartilhou sua trajetória, desde sua infância pobre em Caetés até a presidência. "Eu sou o único presidente que não tem diploma universitário", disse, emocionado ao ver jovens da periferia conquistando vagas em universidades. Ele expressou orgulho em ter aberto as portas para que muitos pudessem estudar, reiterando seu compromisso com a educação como ferramenta de transformação social.O presidente também lamentou a morte do ex-presidente uruguaio Pepe Mujica, a quem chamou de "doce de pessoa" e "referência de decência de um ser humano". A amizade com Mujica, e com outros líderes como Cristina Kirchner, demonstra a importância das relações pessoais para Lula, que se define como "gente".Ao final da entrevista, Lula manifestou sua felicidade e senso de propósito. "Eu estou feliz. Eu não tenho razão para não ser feliz. Eu tenho tudo na minha vida para ser feliz. Eu me considero um vencedor na vida", afirmou. Ele concluiu com um apelo à juventude: "A única coisa que eu acho é que ninguém pode desanimar, ninguém pode desanimar, ninguém pode ser nutrido pelo ódio, pela inveja. A inveja é uma doença. A gente tem que ser bom. Ser boa é melhor do que ser ruim." Lula reiterou sua fé inabalável no Brasil: "Eu acredito, acredito que a gente pode mudar esse país."
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Lula - 29/05/2025 (Foto: Ricardo Stuckert/PR).
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