É seguro beber cerveja, vinho ou chope? Entenda o que considerar antes do consumo para evitar o metanol.
Sete médicos e autoridades alertam: nenhuma bebida é 100% segura. Destilados têm maior risco de adulteração com metanol.
Enquanto o Brasil realiza investigações sobre adulteração de bebidas com metanol, sete médicos e autoridades ouvidos pelo G1 reforçam: não há consumo 100% seguro, embora cerveja e vinho estejam menos vulneráveis. Abaixo, veja todas as análises e considere um consenso: qualquer consumo deve ser evitado quando não há garantia da procedência.
Até agora, o uso de metanol na higienização de garrafas é a principal linha de
investigação da polícia para as intoxicações.
RESUMO DAS ANÁLISES (veja íntegra abaixo):
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Evite
destilados: são os mais vulneráveis à adulteração com metanol.
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Cerveja
e vinho têm menor risco, mas não estão totalmente livres.
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Cerveja
em lata é mais protegida, por ser difícil de adulterar.
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Verifique
a procedência: cheque rótulo, registro e origem.
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Padrões
mais rígidos de produção e segurança estão presente nas grandes indústrias.
·
Casos
raros já atingiram fermentados, como a contaminação de cervejas em
2020.
·
Consenso
médico e oficial: nenhuma bebida é 100% segura neste momento.
Destilados
em alerta
Luis Fernando Penna, gerente médico do Pronto
Atendimento do Hospital Sírio-Libanês, ressalta que os destilados são os mais
vulneráveis à adulteração com metanol. Já bebidas como cerveja, vinho e chope
tendem a ser mais seguras, mas não estão livres de riscos.
“Não existe uma bebida
totalmente segura, mas cerveja, vinho e chope apresentam menor chance de
contaminação com metanol. O vinho tem um processo de fabricação diferente dos
destilados, não é impossível adulterar, mas é menos provável. (...) O ponto
central é que, neste momento de crise, não há bebida 100% segura. Trata-se de
um problema muito grave, com risco real de morte. Até que as investigações
avancem, a recomendação é não consumir.”
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Cerveja em
lata como menor risco
Para Renato Anghinah, neurologista da USP, a lógica
econômica e a forma de envase tornam cerveja e vinho menos atraentes para
fraudadores. Ainda assim, a recomendação é de cautela.
“Do ponto de vista econômico, não
compensa para o fraudador adulterar (o vinho e a cerveja) com metanol, já que o
custo da diluição seria muito alto. Além disso, bebidas em lata oferecem uma
camada extra de proteção, por serem mais difíceis de adulterar. Entre as opções
disponíveis, a cerveja em lata aparece como a escolha de menor risco. O ideal,
no entanto, continua sendo não consumir bebidas alcoólicas durante este período
de insegurança, a não ser que se tenha certeza da procedência.”
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Orientação
oficial
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, reforçou na quinta-feira dia 02 de
outubro de 2025 a recomendação de evitar principalmente os destilados,
sobretudo os incolores, destacando que não são produtos essenciais.
“Recomendo na condição de ministro da Saúde, mas também como médico: evite, neste momento, ingerir um produto destilado, sobretudo os incolores, que você não tem a absoluta certeza da origem dele. Não estou falando de um produto essencial para a vida das pessoas, um produto da cesta básica. É um produto que é objeto de lazer. Não faz problema nenhum na vida de ninguém evitar o consumo desses destilados.”
Goiás registrou o primeiro caso suspeito de intoxicação por metanol em bebida alcoólica — Foto: Wesley Costa/O Popular
Risco
menor, mas existente
Para Olivia Pozzolo, psiquiatra e pesquisadora do Centro de
Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), o risco maior está nos destilados, mas
nem mesmo vinho, cerveja e chope podem ser considerados totalmente seguros.
“No momento, não é possível
garantir com absoluta segurança nenhum tipo de bebida alcoólica. Para bebidas
como cerveja, chope e vinho, o risco de adulteração com metanol é considerado
mais baixo. Ainda assim, recomenda-se sempre verificar a procedência, rótulo e
se o produto tem registro regularizado.”
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Casos já
registrados
A médica intensivista Patrícia
Mello lembra que a história recente mostra que até mesmo cervejas já estiveram
associadas a contaminações químicas graves.
“Lembro que em janeiro de 2020
houve contaminação, intoxicação similar e mortes em cervejaria de Belo
Horizonte em casos similares com etileno glicol. O grande problema é que não
podemos garantir segurança, pois não sabemos ainda o que houve. O que podemos
afirmar é que até agora os casos identificados foram vinculados a bebidas
alcoólicas destiladas.”
Adulteração
e falhas de produção
O hepatologista Raymundo
Paraná, professor titular de gastro-hepatologia da Universidade Federal da
Bahia, explica que o metanol pode estar presente nas bebidas por duas razões
principais: adulteração intencional, mais comum em destilados falsificados, ou
falhas durante o processo de produção. Ele lembra que casos raros já ocorreram
até mesmo com cervejas, mas destaca que grandes fabricantes, com processos
regulatórios rígidos, oferecem menor risco.
“Então, eu sinceramente não
vejo dificuldades em relação à cerveja e em relação ao vinho. Acho que em
situações como essa teria que ser uma manipulação grosseira ou uma grande
fraude, exceto nesses raros casos onde existe contaminação da cerveja em função
de vazamento do fluido anticongelante, como já ocorreu. De qualquer maneira, o
que eu mencionei que ocorreu foi numa empresa regional, não em grandes
fábricas, em grandes marcas de alcance nacional e internacional. Essas eu acho
que são mais seguras, têm processos mais seguros”, afirma.
Complexidade
das bebidas fermentadas
O professor André Ricardo
Alcarde, especialista em ciência e tecnologia de bebidas da ESALQ/USP, ressalta
que a adulteração com metanol é improvável em bebidas fermentadas como cerveja
e vinho, pela própria complexidade do produto. No caso da cachaça, quando feita
dentro das Boas Práticas de Fabricação, o risco é considerado praticamente
inexistente.
“No momento, cautela. Porém, na
minha opinião, as bebidas fermentadas citadas são mais difíceis de sofrerem
adulteração com metanol pela maior complexidade da bebida. Com relação à
cachaça, quando produzida seguindo as Boas Práticas de Fabricação, nunca
apresentarão problema de contaminação com metanol", afirma Alcarde.
Associações
e entidades
Em nota, a Associação
Brasileira de Bebidas Destiladas (ABBD) afirmou que o consumo de destilados no
Brasil é seguro quando se trata de produtos do setor formal, que seguem
“rigorosos padrões de qualidade, segurança e conformidade regulatória”.
A entidade ressaltou, no
entanto, que o avanço do mercado ilegal representa “uma ameaça grave à saúde
pública, fragiliza a arrecadação tributária e alimenta a cadeia do crime
organizado”.
Já o Instituto Brasileiro da
Cachaça (IBRAC) afirma que é seguro consumir cachaça, cerveja, vinho, chope ou
destilados, desde que os produtos sejam de origem legal e comprados em locais
confiáveis. “Caso haja qualquer desconfiança, o consumidor não deve consumir”,
alertou.
Entre os principais cuidados, o
instituto orienta verificar se a bebida tem rótulo e registro no Ministério da
Agricultura (MAPA), evitar preços muito abaixo do mercado, não comprar de
vendedores informais e sempre exigir nota fiscal.
"Entendemos como
extremamente importante o aparelhamento do Estado para o combate à
falsificação, adulteração, contrabando, produção ilegal e os ilícitos
tributários, que representam a maior parte do mercado ilegal de bebidas".
Por sua vez, a Associação Brasileira
de Bares e Restaurantes (Abrasel) orienta consumidores a darem preferência a
bebidas de fornecedores de confiança, com nota fiscal e preços compatíveis com
o mercado, já que valores muito abaixo do normal podem indicar fraude.
A entidade recomenda ainda observar rótulo, lacre e cor da bebida. Ao mesmo tempo, cobra maior firmeza das autoridades na fiscalização de fábricas e distribuidores.
Atualmente, há
209 casos de intoxicação por metanol em
investigação no Brasil. Destes, 16 foram confirmados, e dois resultaram em
morte. A maioria das bebidas adulteradas era destilados, como gin, uísque e
vodca. Ainda assim, o risco ao consumir cerveja e vinho não pode ser
descartado.
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